segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

euros e empreiteiros com gel no cabelo


Se dependesse de si, se ele mandasse, o Zé, nunca o Euro poria os ricos pés em Portugal. Zé acha que foi um dos maiores falhanços da geração dele permitir a entrada da moeda europeia no nosso país.

Estávamos tão bem com o escudo! Pensou ele enquanto era conduzido pelo Doro, o motorista.

Uma geração de revolucionários, ele, o Quim, o Zé Maria, o Praia e o Cacheira, sendo que estes dois últimos integravam a equipa dos bebés do Varzim, da qual Zé fez parte mas ninguém lembra.

Têm memória curta estes filhos da puxa! Disse ele já em voz alta, o que chamou a atenção do Doro que respondeu:

Hum!

O Euro só trouxe confusão à cabeça das pessoas e tornou-as mais esganadas. Falo por mim, pensava ele.

Um dos grandes objectivos de Zé era esclarecer os poveiros da sua geração sobre o real valor do euro.

Num gosto que pensem que os estou a enganar, pensava ele.

Oh Doro, se eu te perguntar quanto é em escudos 4 milhões de euros tu sabes?

Hum?

Coitado, nasceu na aldeia.

Zé gostava de trabalhar com os empreiteiros da geração dele, daqueles que sujavam as unhas com cimento, que ignoravam o euro, que traziam uma nota de mil escudos no bolso para dar sorte.

Como eram lindas as notas de mil escudos, pensou ele.

Zé esclarecia sempre os poveiros do valor das empreitadas em escudos. Não gostava de enganar ninguém.

Por exemplo, na obra da avenida toda a gente lhe perguntava: então são quatro milhões de contos Zé?

São shim. Como é que sabes?

Fostes tu que dissestes. É preciso tê-los no sítio.

Antão num é? Dizia Zé orgulhoso.

Os empreiteiros da sua geração punham as mulheres a cozinhar aqueles pratos tipicamente portugueses que ele tanto gostava e a mulher já não preparava desde sempre. Zé detestava o “catering”, o “take away” e o “procuração na hora”. Para ele tudo isso veio por acréscimo do euro. Um mal nunca vem só. Pensava ele. Depois rebentam as crises com esta força.

Fizessem parques subterrâneos palermas! Gritou ele com o vidro do carro aberto e dirigindo-se aos transeuntes.

Só que na altura vinha o padeiro a passar que não se conteve e gritou: baitimbora Garibalde!

Zé queria descer do carro para andar à porrada, mas depois lembrou-se que era Presidente a as eleições estão à porta. Calma Zé, calma, pensou.

Os empreiteiros da sua geração falavam em escudos, em contos de rei, em futebol e em putas. Zé entendia-se bem com eles.

Na última noite Zé apanhou um susto.

Um empreiteiro, cheio de gel no cabelo e com ar de doutor, surgiu-lhe no Gabinete. Zé pensou inicialmente que se tratava de um inspector da PJ e já ia pôr-se a mexer, como de costume: Inde chatear o carago! Pensava ele desses inspectores.

Mas não. Era um novo empreiteiro que queria entrar no mercado imobiliário poveiro.

Pá, isto tem regras, amiguinho. Avisou Zé num tom agressivo.

Sr. Zé tenho aqui um empreendimento que vai ter duzentos apartamentos, vai dar emprego a 1000 poveiros e vai custar 30 milhões de euros.

Quando ele falou em euros Zé ficou logo fodido.

30 milhões de quê pá?

De euros.

E isso dá quanto em escudos?

É só fazer a conta.

Ah! Outro Guterres, pensou Zé.

Antão ficas já a saber amiguinho, eu quero uma percentagem de 300 mil contos.

Era o que eu já tinha pensado Sr. Zé, 300 mil euros.

O quê pá? Que estás praí a dizer? 300 mil contos home.

Pois pois, até já tenho aqui o cheque de 300 mil euros prontinho.

Pega no xeque e limpa-lhe o penes. Aqui pias fininho se não acontece-te como a FODE que foi prá periferia.

Ora aqui está o chequezinho direitinho.

Assim está melhor.

E tu Buenos o que queres?

Pra mim pode ser o apartamentozinho do costume.

Zé dormiu melhor nessa noite. A adrenalina da discussão cansou-o de sobremaneira.









4 comentários:

Anónimo disse...

É a bela realidade da nossa Póvoa.

Anónimo disse...

esse zé é o sócrates, ou é aí da terrinha?

póvoa de varzim online disse...

da terrinha.

Anónimo disse...

Passei por aqui e verifico que o Tony continua em grande forma.
Força Tony, isto agora está a aquecer e os tipos precisam de saber a verdades.
Estou contigo.